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terça-feira, 12 de outubro de 2010

EU SEI QUE VOU TE AMAR




EU SEI QUE VOU TE AMAR

FILME DE JABOR


Existe algo de impossibilidade nas relações; existe algo de fatídico na convivência. As mesmas pulsões que alimentam a vida planejam a morte. Afeto X Sexo duelam.
No filme, há um duelo de quase duas horas abordando este tema complexo. A menina estava vestida de sonhos, de paixão e fantasias
(sobretudo fantasias..). Esqueceram de lhe dizer o quanto é difícil a convivência. O rapaz estava possuído pela libido, o tesão rodopiava no ar.
Não me preocupa o que Jabor quis expressar quando realizou este filme em 1986, importa como o percebemos. Fato é que neste duelo conjugal cada um reclama por seus direitos, sonhos e desejos o que torna em muitos momentos o filme esgotante, até porque vivemos isto. É o nosso dia a dia de cobranças diárias. Tal como na vida, X quer ( ou queria..) de Y algo que não aconteceu. Eles voltam ao “Set”( Lar), possuídos de esperança.
‘Sem dúvida alguma, a esperança é a última que morre !’
No duelo ela reclama da falta de espaço para existir, das interferências familiares, da formação que a avó lhe impôs, de tudo que queria e não aconteceu. Ele reclama das suas angustias, do que imaginara existir nela, reclama inclusive do próprio desejo que rege sua vida. “..É preciso deixar de ser homem, para tornar –se homem...” Sim, não resta a menor dúvida que é preciso deixar a vestimenta arcaica imposta pela sociedade, onde a mulher é apenas a Amélia que está ali para lhe dar “o impossível”, apenas porque nem isto(“o impossível..”) o completará. Nada preenche àqueles corações desejosos.
Isto me remete às crianças, como observadora da vida, sei que toda criança por mais linda que seja( falo das crianças de tenra idade), vampirizam as mães. As crianças, querem, querem e querem. E o que querem? O prazer permanente; e este meus queridos, dura instantes. Os prazeres, a felicidade é a soma de momentos mesmo numa relação a dois. Antes de dizer: “Eu Sei Que Vou Te Amar”, existe a questão: EU ME AMO.
Quem não se ama, jamais conseguirá se relacionar satisfatoriamente com o outro; porque é a partir da relação consigo mesmo que você poderá construir uma relação a dois. Ali, naquele casal de Jabor, cada um entra querendo do outro aquilo que eles mesmos não possuem: Amor a si próprios, consciência de quem são. Algo muito difícil de construir. Dar espaço para que o outro construa sua própria existência é mais um capítulo. Confesso que eu mesma tento compreender que o outro é o outro e não uma parcela de mim.
Vivemos a incompletude eterna, somos solitários na vida, nascemos sozinhos e vamos morrer eternamente solitários. Ai que inveja...rs de Simone de Beauvoir e Sartre. Terão eles encontrado a fórmula? O fato é que precisamos amar um pouco menos até para poder educar. ‘Amor demais atrapalha o processo de crescimento, tal como amor de menos...’ É preciso saber dosar. Freud dizia que “Educar é saber frustrar”, sábio, não é mesmo? Fato é que vivemos a incompletude para podermos conviver com o outro. Tenho a certeza absoluta que nascemos incompletos...


Ivy Gomide


Ficha Técnica
Título original: Eu Sei que Vou te Amar
Gênero: Drama
Duração: 104 min.
Lançamento (Brasil): 1986
Distribuição: Embrafilme
Direção: Arnaldo Jabor
Roteiro: Arnaldo Jabor
Produção: Helio Paula Ferraz e Arnaldo Jabor
Fotografia: Lauro Escorel Filho
Figurino: Glória Kalil
Edição: Mair Tavares


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