Powered By Blogger

quinta-feira, 3 de julho de 2008

MORDO O AR




MORDO O AR
Ivy Gomide


Mordo o ar
em cicatrizes
Mordo
Ar que perpassa
instantes
escorre
à janela
vermelho

Mordo.

Diluído sêmen
na chuva ácida
Mordo o ar
da boca
pingando
cerejas mentirosas
Cravo dentes
espirrando
manchas azuis

Mordo a voz
que des encanta
o concerto de Mozart
em gargalhada cruel
A face esculpida da lua
queima garganta
em fel

Mordo.

Do sangue coalhado
na rasura
da página
mordo porque
não me ouviste
Mordo pra lacrar
a tranca escrita:
Afaste-se
- Perigo.

Mordo o pedaço
doce da lua
pintado em
branca estrela
Engulo-a
com chantilly
derretido
na boca.
Tocam dedos
lambuzam mãos
amaciam
árido veludo.
Fecham feridas
cicatrizam
horas.

RJ – 2007
_________________________

4 comentários:

Flávio Mello disse...

"Mordo a voz
que des encanta
o concerto de Mozart
em gargalhada cruel
A face esculpida da lua
queima garganta
em fel"

Nossa, Flor, que lindo... que coisa linda... que coisa, mais coisa... parabéns...

sabe, estou tão feliz... saber disso tudo, vc, vcs... e tal... achoq ue estou me encontrando como escritor... tinha tanto medo, agora sei... meu talento não é solitário...

obrigado por tudo... beijos

Elaine Cristina Carvalho Duarte disse...

Hummmm, intimista, sensual, pulsante, intenso...

Beijos

Nane

Fá Batista disse...

Singrando a essência da vida. Belo, como sempre. bjs

Cícero de Andrade disse...

Como eu sempre digo: A poesia ainda vive, resiste e resgata-se no nosso país, feito de "longas e sujas recordações". Obrigado por brindar esta minha noite com versos tão belos.