MORDO O AR
Ivy Gomide
Mordo o ar
em cicatrizes
Mordo
Ar que perpassa
instantes
escorre
à janela
vermelho
Mordo.
Diluído sêmen
na chuva ácida
Mordo o ar
da boca
pingando
cerejas mentirosas
Cravo dentes
espirrando
manchas azuis
Mordo a voz
que des encanta
o concerto de Mozart
em gargalhada cruel
A face esculpida da lua
queima garganta
em fel
Mordo.
Do sangue coalhado
na rasura
da página
mordo porque
não me ouviste
Mordo pra lacrar
a tranca escrita:
Afaste-se
- Perigo.
Mordo o pedaço
doce da lua
pintado em
branca estrela
Engulo-a
com chantilly
derretido
na boca.
Tocam dedos
lambuzam mãos
amaciam
árido veludo.
Fecham feridas
cicatrizam
horas.
RJ – 2007
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4 comentários:
"Mordo a voz
que des encanta
o concerto de Mozart
em gargalhada cruel
A face esculpida da lua
queima garganta
em fel"
Nossa, Flor, que lindo... que coisa linda... que coisa, mais coisa... parabéns...
sabe, estou tão feliz... saber disso tudo, vc, vcs... e tal... achoq ue estou me encontrando como escritor... tinha tanto medo, agora sei... meu talento não é solitário...
obrigado por tudo... beijos
Hummmm, intimista, sensual, pulsante, intenso...
Beijos
Nane
Singrando a essência da vida. Belo, como sempre. bjs
Como eu sempre digo: A poesia ainda vive, resiste e resgata-se no nosso país, feito de "longas e sujas recordações". Obrigado por brindar esta minha noite com versos tão belos.
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