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quinta-feira, 15 de abril de 2010

MORTE EM VENEZA - FILME DE L. VISCONTI



Morte em Veneza

Só se pode alcançar a beleza através dos sentidos. Existe algo de maligno em nossos sentidos.
- ‘Não posso aceitar algo demoníaco dentro da arte.’
Esta frase traduz um pensamento de Gustav Aschenbach.
Segundo a wikipédia, "Morte em Veneza apresenta uma escrita complexa e profunda, onde cada parágrafo pode ter diversas leituras".
O aparente enredo nos parece inexistente porque trata da história de um homem de meia-idade que viaja até Veneza e apaixona-se platonicamente por um belo rapaz de 13 anos. Contudo este envolvimento ao mesmo tempo que perturba, provoca um fascínio e desejo irresistíveis para no final este homem morrer sem sequer ter trocado uma palavra com ele.
Gustav é um compositor rígido em suas regras, está doente e foi a Veneza para descansar e relaxar; tratamento indicado para seu coração doente.
Tádzio é um menino de 13 anos que possuí uma beleza fora do comum. É saudável, alegre e vive uma vida de garoto sem preocupações ou regras.
O encontro dos dois acontece na paradisíaca Veneza que naquele momento atravessa um período vulnerável com a possibilidade de uma epidemia de cólera.
O filme nos proporciona pouco mais de duas horas sobre a questão do desejo e do amor mesmo que platônico.
É o encontro do artista com a beleza, tanto da cidade quanto da música e do menino em sua perfeição.
Veneza é o cenário onde se passa a angustiante e dramática história; uma cidade flutuante entre pontes e vielas labirínticas. Uma cidade romântica que possibilita encontros e paixões, uma cidade enigmática porque parece guardar mistérios indecifráveis. Uma cidade onde Aschenbach perde o controle de suas rígidas regras porque penetra na intimidade da beleza em estado puro.
Aparentemente a história aborda a homossexualidade, entretanto esta questão logo fica em segundo plano porque a paixão que toma conta de Aschenbach permanece no âmbito da idealização, em nenhum momento ela é tem características sexuais. É uma paixão extraída do olhar. Tal como acontece quando estamos em Veneza. O olhar revela.
A atração não ultrapassa a necessidade de “ver e sentir” o belo. Este belo é o ideal perseguido de forma irresistível como beleza eterna e é essa beleza que transtorna o compositor que sempre a buscou para si .
Aschenbach encontra a arte (beleza), na forma física ( humana).
Esta sempre foi sua meta como compositor, meta que ele perseguiu por toda vida; o drama consiste no fato de que a beleza não surge de dentro dele, ele não chegou a ela de dentro para fora, ela chegou a ele de fora para dentro na figura perfeita do jovem Tádzio. Portanto ele não é criador, mas somente espectador.
Isto faz com que a beleza provoque angustia.
Li em algum lugar da internet que ‘a imagem de Tadzio seria a captura da beleza que a arte se encarrega de eternizar.’ Achei a frase belíssima, talvez tão bela quanto o próprio Tadzio ou minha linda Venezia.
Acompanha esta trajetória a 5ª Sinfonia de Mahler fazendo com que o filme se transforme na própria beleza desmembrada.
Fico pensando neste triangulo sutil: A 5ª sinfonia trafega os labirintos e as pontes projetando o olhar doce como só os anjos tem, um anjo chamado Tadzio.



título original: (Morte a Venezia)
lançamento: 1971 (Itália)
direção: Luchino Visconti
atores: Dirk Bogarde , Mark Burns , Marisa Berenson , Carole André , Björn Andrésen
gênero: Drama


Ivy Gomide

2 comentários:

Camusiana disse...

Olá, Querida
Depois que li seu texto, fiquei com muita vontade de ver o filme,descrições e impressões interessantes demais. Nunca o assisti.Mas li, e foi muito marcante.
Quando penso no livro, chego a sentir os aromas que as sensações descritas por Thomas Mann tinham. A sinestesia perfeita, mistura o tempo e a trágica passagem dele, a perfeição da beleza, entre a arte e a natureza. Só que no livro, ele era um escritor não um compositor. Mas buscava o equilíbrio perfeito na sua obra, da mesma forma.
Adorei seu blog! Me ensina depois como colocar Imagens assim (como sua foto linda!) lá em cima? Bjs

Thiers Rimbaud disse...

Ivy ao contrário de Camusiana, eu vi o filme tbém. No livro ele era realmente escritor, mas no filme ele é compositor, engraçado é que o compositor mexe mais comigo do que o escritor. Afinal amo esta música de Malher (5ª sinfonia), A beleza de Veneza colada à beleza de Tadzio, entremeada à beleza de Malher formam um todo. O filme é realmente uma ode a beleza. A morte perde, aliás a morte sempre perde pra vida. O filme, o livro, Thomas, Visconti.....estão todos vivos.